What To Do /
Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul
Uma das características dos lisboetas é a convivência nos cafés, botequins, praças, esplanadas, sociedades, etc. O início do século XX foi o boom desses locais.
Num mesmo espaço, por norma decorado a madeiras escuras, com requinte e charme, encontrava-se um café, um teatro, uma sala para bailes. Aí, a população reunia-se, comia, discutia a vida, apresentava ideias, lia livros, vivia a cultura e dançava pela noite fora.
Os tempos mudaram, modernizaram-se, esses espaço foram sendo substituídos e a vivência tornando-se outra.
Curiosamente nos últimos anos assistimos a um retornar dessas vontades, como se depois de termos passado por um período de isolamento, percebessemos o quanto é importante a convivência com o outro, o trocar de ideias ao vivo, o olhar nos olhos.
A Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul, em Santos, é um desses locais, situada num prédio que pode passar despercebido, perto de uma das fontes carismáticas da cidade, ao lado de uma padaria tradicional e das lojas trendy do Design District, a poucos passos do rio. Este é um espaço onde encontrará um café-concerto, um teatro, uma galeria de arte e uma livraria.
Que mais poderíamos nós desejar?
Guilherme Cossoul foi compositor e violoncelista (e para quem não sabe, filho de um faquir francês). Homem de grandes valores, muito ligado à sociedade, importava-se com o outro e com o modo como todos devemos ajudar e ter um papel relevante na sociedade. Muitos talvez não saibam, mas Guilherme Cossoul foi mesmo o fundador dos bombeiros voluntários em Portugal.
Após a sua morte, no ano de 1885, 47 músicos amadores criaram esta Sociedade. Pretendiam celebrar a vida deste homem, ensinar música e alfabetizar as pessoas do bairro, realizar um trabalho social. Esta instituição realizou numerosos projectos de formação, instrução, animação cultural, social, artística e desportiva, divulgando sempre novos talentos.
Os anos 1960 e 1970 foram o seu apogeu. Nessa altura todos falavam dos bailes da Cossoul, e as actividades eram tantas e tão diversificadas, imaginem que existia até uma equipa de pesca! Por aqui passou Raul Solnado, Henrique Viana, António Variações, Camané (que vinha com os pais e cantava um fado, mesmo só tendo 6 anos), Deolinda, entre tantos outros.
Anos mais tarde e mantendo o espírito original, formou-se o Grupo de Teatro Alta Cena, pela mão de José Boavida e que aqui apresenta as suas peças.
Mesmo passando por períodos difíceis, esta Sociedade não fechou portas e actualmente tem cerca de 1030 sócios, celebra 130 anos, sob a Presidência de Miguel Santos.
Funciona de 3ª a sábado, das 12h às 02h!
Venha comigo!
Chegados ao edifício, a primeira coisa que encontramos é a livraria. Num espaço do rés-do-chão que se encontrava completamente ao abandono, estão agora mais de 4000 livros.
Esta livraria - alfarrabista, responsabilidade de Ricardo Ribeiro (mais conhecido no mundo dos livros como o Sr Teste) tem uma selecção de livros em 2ª mão, esgotados, primeira edições, editoras independentes absolutamente fantástica. Aqui entra-se e leva-se muitas horas para sair. Saltitando de livro em livro, entre dois dedos de conversa com o Ricardo, fica-nos a apetecer levar tudo. Além do mais este livreiro adora desafios! Peçam-lhe um livro daqueles que parecem impossíveis de encontrar e vão ver quão rapidamente os vossos desejos se tornam realidade! Aqui desenvolve-se ainda uma vertente editorial: a Artefacto (um projecto de publicação de livros de poesia, teatro, ficção curta) juntamente com o Sr Teste, começou a reedição de livros, o primeiro já reeditado foi “Supremo 16/70” de Miguel Manso.
Subimos as escadas e encontramos o Teatro Raul Solnado, uma bela sala de espectáculos. Logo de seguida o espaço da Galeria, uma sala com vista, decorada com belos azulejos, onde têm lugar exposições de pintura e fotografia, individual ou colectiva.
Se a fome der sinal, basta irmos até ao bar. Gerido por Pedro Lobo, onde podemos pedir um simples café ou uma refeição completa. Ainda estou a pensar no cheiro delicioso da sopa! Enquanto esperamos, olhamos em volta, e é impossível não esboçar um sorriso ao ver as fotos a preto e branco dos bailes nos anos 1960.
Todas as noites da semana acontece algo aqui:
3ª – encontros artísticos – 2 artistas de áreas diferentes juntam-se e mostram-nos o que criaram
4ª – quizz – cultura geral (dizem que é uma noite de loucura com inúmeros fãs)
5ª – concertos ou sessões de poesia, são as noites da curadoria Sr Teste, por cá, já passaram nomes como Tiago Sousa, Minta, Bruno Pernadas, Joana Guerra, Manuel Dordio...
6ª e sáb – produções teatrais, galas de stand-up, concertos...
Aqui funciona ainda a escola de música: piano, voz, guitarra, bateria, trompete e saxofone e em breve terá lugar o Curso de Literaturas – centrado na poesia com Rosa Azevedo, Marta Navarro e João Silveira e um Curso de Formação de Autores.
Quando saímos deste local, caminhando no regresso a casa, pisando a calçada lisboeta e respirando o ar de maresia (que tanto engana os turistas levando-os a pensar que o nosso Tejo é mar),sabemos que vamos voltar.
Estejam atentos a tantas actividades, aqui ficam links para acederem a todas as informações:
http://www.guilhermecossoul.pt/
https://www.facebook.com/guilhermecossoul
https://www.facebook.com/SrTeste?ref=br_tf
Obrigada especial ao Claudio Henriques, que me guiou pela história desta casa.
Desafio 5: Já que falamos em visitar um lugar onde esquecemos as horas, pergunto-vos, sabem qual é o relógio que indica as horas oficias de Lisboa?