What To Do / Comer e Beber
Mini Bar
Quantos de nós não dissemos já “comemos qualquer coisa rápida antes de ir ao teatro”? E se isto se invertesse e a refeição fosse a mais bela historia gastronómica escrita e confeccionada? Não, isto não é um exercício de retorica. Existe.
Ali mesmo no edifício do teatro São Luís com o nome de Mini Bar há uma peça de teatro escrita pelas mãos do José Avillez, e a sua equipa, onde ele coloca todos os nossos sentidos em alerta máximo perante tudo o que nos é apresentado.
A originalidade começa logo pelo facto de não sabermos se estamos perante um restaurante ou um bar. Para mim é sem dúvida uma mistura dos dois. A ementa é feita de pequenas tapas que nos fazem pensar, surpreender e sorrir, verdadeiras experiências alquímicas – umas originais, outras importadas do Belcanto e do Cantinho do Avillez (outros restaurantes do chef) – apresentadas em mini-doses e transformadas num menu de degustação contemporâneo. Perante as hipóteses que nos colocaram, três, optamos por nos colocar totalmente nas mãos do chef e assim embarcar numa aventura de 13 pratos.
O primeiro acto começou com umas margaritas, um gomo de maçã com tequila, chili e sal, seguidas de umas azeitonas explosivas, colocadas sob uma colher e que explodem literalmente nas nossas bocas. Os sorrisos são inevitáveis.
Depois chegam as gambas do Algarve em ceviche, no fundo são duas gambas cruas servidas em cima de uma fatia de lima, com uma beterraba e um grão de milho frito (sim um milho frito sozinho mas que faz a diferença total). O sabor a mar das gambas e os subtilíssimos toques ácido da lima e salgado do milho frito são de pedir bis e a peça gastronómica ainda mal começou. De seguida um abacate em tempura com kimchi (um acompanhamento coreano) desidratado com rebentos de coentros, lima e limão. O crocante de fora a contrastar com a suavidade do abacate que está no interior é de ficar comovido. E os sorrisos continuam.
Aqui a peça de teatro teve uma variante para mim, pessoa que não come queijo, e por isso tivemos direito a provar, eu, uns óptimos croquetes de novilho com emulsão de mostarda (e não aqui não havia habilidades, eram uns croquetes fantásticos mas com ingredientes e técnicas mais usuais) e, ele, umas bruschettas de foie gras com redução de balsâmico, parmesão e figo (parece que também estavam deliciosas mas eu vou poupar todos ao que me passou pela cabeça já que nem posso olhar para queijo). De volta ao menu “normal” chega uma cavala fumada, com tiras de maçã e aipo e molho, A cavala é servida dentro de uma pequena campânula transparente cheia de fumo que quando chega à mesa, é levantada a tampa e tudo à volta fica com um aroma agradável.
Mal tínhamos terminado e já estavam à nossa espera uns maravilhosos cornetos: o cornetto temaki com um tártaro de atum e um molho de soja picante enrolado em alga nori e o cornetto de tártaro de novilho com emulsão de mostarda, alcaparras e cornichones (não faço a menor ideia do que seja mas foi o que nos disseram e era bom). Aqui caiu o primeiro mito: a Sara não gosta de tártaro. Passo a reformular: a Sara não gosta de tártaro que não seja feito pelo José Avillez.
Depois chegou um bacalhau em tempura com um molho de escabeche e umas framboesas desidratadas e servidas em pó por cima. A massa da tempura é fina e crocante e as framboesas dão-lhe um toque ácido que torna esta mistura em algo a repetir (só imaginava levar para casa uns 10 exemplares e comer com um arrozinho branco no dia seguinte). Por último chegou um mini-hambúrguer de carne de novilho barrosã em pão de brioche e acompanhado com pancetta que só consigo dizer que estava divinal.
Chegados aqui estávamos em alerta máximo e sempre expectantes sobre o que viria a seguir. Sobremesas! As hostilidades começaram com uns cornetos de bolacha de chocolate com mousse e espuma de chocolate. Por cima flor de sal e pimenta rosa que retiraram qualquer possibilidade desta sobremesa ser enjoativa. Perfeição.
Por último chegámos aquele momento de impasse na nossa cabeça em que a peça está ao rubro e não queremos que termine mas também gostaríamos de saber como vai terminar. Chega à mesa uma bola verde inofensiva, que ao primeiro toque da colher quebra e produz aquele som irrepetível, de lima com espuma e sumo de limão. Confesso que era menina para comer umas quantas bolinhas daquelas sem o mínimo sacrifício.
Em suma a peça de teatro terminou e só nos apetecia gritar BIS. Sem dúvida um local a regressar!