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Crónicas de uma ciclista holandesa em Lisboa

Sou holandesa, nasci e cresci lá até os meus 10 anos de idade. Ou seja, nasci e cresci a usar a bicicleta como meio de transporte. Felizmente. Gosto de praticar um estilo de vida saudável e amigo do ambiente. Por isso, ainda bem que fui habituada assim. Lembro-me de, aos dez anos de idade, ir para a escola de bicicleta e chegar com as mãos congeladas (embora usasse luvas, claro). As mãos pareciam que congelavam no volante e ao chegar à escola, os alunos juntavam-se ao pé do aquecedor para “descongelar” as mãos. É assim que se cria malta rija.

Quando nos mudamos para Portugal, a bicicleta passou de meio de transporte a meio de lazer e apenas a usava para passeios de fim-de-semana ou para me deslocar à cidade, ocasionalmente. Ainda na Holanda, os meus pais compraram-me uma bicicleta boa para levarmos para Portugal. Recebi-a, portanto aos dez anos de idade e a bicicleta veio da Holanda com as mudanças.

Foi só no último semestre da minha licenciatura em Lisboa que voltei a usar a bicicleta como meio de transporte. Estava farta das greves de metro e então decidi levar a bicla para Lisboa. A minha mãe sugeriu que levasse a bicicleta de comboio de Lagos para a Capital, mas preferi não pagar bilhete e fui de bicicleta. Sim, pedalei trezentos e tal quilómetros. Convenci um amigo e foram três dias de suor, lágrimas e superação enquanto acampávamos por aí. Foi então que comecei a usar a bicicleta em vez do metro, para me deslocar da zona do Lumiar a Campolide, como parte do meu dia-a-dia.

Entretanto vivi na Holanda durante um ano e meio no âmbito do mestrado e continuei a pedalar feliz. Quando regressei à Capital Portuguesa para iniciar a minha vida profissional tive a sorte de poder ir a pé para o trabalho durante três anos. A caminhada de cerca de meia hora entre a Alameda e Picoas e regresso era o meu momento de reflexão diário. Em vez de estar fechada no metro mal cheiroso, namorava com a Avenida Duque D’Ávila. Também aproveitava esse momento para ouvir um audio-book ou pôr a conversa em dia com a minha mãe. Fizesse chuva ou vento, eu ia a pé. A diferença em termos de tempo se fosse de metro seriam 10 minutos, no máximo. Recomendo vivamente. Faz-vos bem, acreditem.

Foi no Verão de 2015, quando mudei de emprego, que a distância casa-trabalho já não permitia caminhar e então voltei a pegar na minha querida bicicleta que tinha recebido aos dez anos de idade. É uma bicicleta velhinha, mas continua a servir-me, pois é uma bicicleta de senhora. Faz hoje parte do meu quotidiano descer a Almirante Reis, da Alameda até a Rua da Prata, onde trabalho, e regressar. Este percurso é ótimo porque na ida, ao descer, não preciso de me esforçar fisicamente, chegando ao trabalho fresquinha. Já no regresso, nos dias de calor posso chegar transpirada ou nos dias de chuva, molhada, mas não há problema. Um bom banho resolve a situação ou então serve de aquecimento para o treino de corrida a seguir.

Já não tenho carro nem passe de tranportes. Só duas pernas e uma bicicleta. De bicicleta sou mais rápida que os transportes nalguns percursos. Mas para mim, a maior vantagem é o sorriso na cara que a Almirante Reis sobre duas rodas me causa diariamente. Adoro Lisboa e a bicicleta é uma forma de viver a cidade mais intensamente. Na sequência desta introdução, em breve partilharei algumas das minhas experiências boas e menos boas enquanto ciclista na Capital.




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