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Lisboa das casas dos observadores de estrelas
É ao sair de Santos, seguindo a linha do eléctrico a subir para a Lapa, que do lado direito encontramos a casa mais estreita de Lisboa, na rua de São João da Mata.
Num primeiro olhar pensamos ser só uma fachada, algo que restou de um prédio antigo esquecido, mas, depois, percebemos que afinal existe uma parede, que tudo está bem cuidado, que a janela está aberta e há roupa pendurada!
A dúvida assalta-nos: como poderá alguém viver ali?
A casa estreita e alta é típica de uma Lisboa popular antiga. Em tempos idos uma casa não tinha as divisões que conhecemos hoje, não havia a sala de jantar, o quarto de banho (como tão bem dizem os portugueses do norte) e muito menos um escritório.
Na mesma casa viviam, frequentemente, 4 ou 5 famílias juntas, pois cada divisão era uma casa em si mesma. Daí que, muitas vezes, a porta da rua fosse o acesso directo às divisões interiores. As refeições faziam-se na cozinha e o banho tomava-se no balneário público (ainda hoje em funcionamento nos bairros antigos).
Os corredores, queriam-se estreitos e sinuosos para ajudar a evitar roubos no meio da barafunda de tantas famílias.
A profundidade e a escuridão advinha da necessidade de resposta a um clima quente.
Actualmente a modernidade impera: muitas casas foram alargadas e em todas foi colocada uma banheira. Curioso foi a reacção dos moradores a tal mudança. Os habitantes mais antigos transformaram as novas casas de banho em pequenos jardins interiores, preferindo continuar a frequentar o balneário público, tal como fizeram toda a vida! Onde mais se poderia falar do dia-a-dia do bairro?
Os “meus” turistas soltam “ahs” e “ohs” quando a vêem, atropelam-se para a fotografar e brincam sempre dizendo que ali “dorme-se de pé” e “que deve ter servido de inspiração para o IKEA.”
Sei que, de tudo o que lhes contei, é esta a imagem que os marcará mais nesse dia e penso sempre na ideia da escritora Sophie Bernard que diz “que se pode dizer delas o que Montesquieu diz das casas de Paris em Lettres Persanes, ou seja, “são tão altas que parecem ser habitadas por observadores de estrelas.”
E já que falamos de bairros antigos, de balneários e lavadouros públicos, lanço o segundo desafio
Desafio 2: Descobrir o bairro onde à porta das casas ainda se encontram tanques para lavar a roupa à mão.