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Pela rota da água até ao Chafariz do Vinho
Visitar, por baixo da cidade de Lisboa, o Aqueduto das Águas Livres enquanto se aprende um pouco da sua história, é ainda mais agradável quando termina num dueto de vinho e petiscos
Ao fim da tarde de um dia solarengo de início de Primavera, o Jardim do Príncipe Real enche-se de gente pequena que corre, anda de bicicleta, ou usufrui do seu pequeno parque infantil. A maior parte vai ali com os avós, que aproveitam os últimos raios de sol. Aqui e além vêem-se pares de namorados, pessoas a usufruir da ociosidade.
Poucos devem saber que, por baixo do jardim, se esconde o Reservatório da Patriarcal, parte integrante da obra monumental que é o Aqueduto das Águas Livres. Mandado erigir pelo Rei D. João V, a sua construção teve início em 1731 e dotou Lisboa de um complexo conjunto de galerias subterrâneas, arcos e clarabóias que se dispersam por toda a cidade com múltiplos chafarizes, outrora importantes pontos de abastecimento de água da cidade. Ao todo, a antiga rede do Aqueduto incluía 58 km de condutas de água, 109 arcos, 137 clarabóias e 30 chafarizes. É uma obra única.
É sempre emocionante andar sob Lisboa e descobrir um pouco da história do Aqueduto, que está actualmente sobre gestão do Museu da Água. A visita que fiz, a partir do Reservatório da Sé Patriarcal, levou-me à Galeria do Loreto, o mais antigo dos cinco ramais que transportavam as águas livres à Lisboa do século18. Com quase 3 km, passa por baixo do Largo do Rato, pela Rua da Escola Politécnica e termina no Largo do Teatro de S. Carlos, abastecendo vários chafarizes durante o caminho. O meu passeio desse dia levou-me à descoberta de um pequeno troço desta galeria, enquanto ouvia histórias da história da sua construção por uma das responsáveis do Museu da Água. Na Pia da Penalva, reservatório de distribuição das águas, descobri que a água chegava até ali embutida na parede, e não em caleira aberta, como acontece noutros troços do aqueduto. A sua velocidade, devido ao excesso de declive, não permitia fazê-lo de outra maneira. Naquele ponto de encontro tomei o ramal que leva ao Chafariz da Mãe d’Água, em direcção à Enoteca Chafariz do Vinho para amena petisqueira de fim de tarde em boa companhia. Não é que este acesso seja o habitual a esta casa, porque passa pela sua preciosa garrafeira e está, por isso, habitualmente interdito. Mas o passeio tinha sido combinado e eu era esperado.
Nesta casa privilegia-se o vinho, principalmente aquele que tem origem em Portugal. Há cerca de 200 referências de todas as regiões do país, mas também se podem apreciar alguns grandes crus da Borgonha, o ou Chateaux Margaux, por exemplo. Para esse final de tarde, Manfred Kleinhans, um dos seus proprietários, em conjunto com João Paulo Martins, jornalista e um dos críticos de vinho mais conceituados do país, sugeriu um Bacalhau fumado com vinagrete de legumes, regado com um bom azeite, que teve a companhia de um Quinta do Regueiro Alvarinho e Trajadura de 2013. A seguir saboreei uma Trouxa de Alheira de caça com couve lombarda em cama de molho de beterraba, que ficou muito bem com o tinto Luis Pato Vinhas Velhas de 2009. Depois, embalado por bons aromas e sabores, mergulhei na noite de Lisboa.
Enoteca Chafariz do Vinho
Morada: Chafariz da Mãe d'Água, Rua da Mãe d'Água à Praça da Alegria, Lisboa
Tel. 213 422 079
Email: clientes@chafarizdovinho.com
Horário: das 18h às 02h. Encerra à 2ª feira
Museu da Água
A marcação da visita ao troço Reservatório da Patriarcal – Miradouro de S. Pedro de Alcântara do Aqueduto das Águas Livres é obrigatória.
Telefone: 218 100 215
Email | mda@epal.pt
Reservatório da Patriarcal
Morada: Praça do Príncipe Real, 1250-184 Lisboa
Horário: Aberto de terça a sábado entre as 10h e as 17h30
Galeria do Loreto
Morada: Praça do Príncipe Real, 1250-184 Lisboa
Horário: Quartas e sábados - 11h e 15h