About Lisbon / Bairros
Lisboa
Lisboa. Vou contar-te uma coisa. Desde o primeiro dia que te pisei que digo que ainda não me deste tudo o que tens para dar (não, não vou sair daqui, ainda não é tempo, quero ver o que vem aí!). É daquelas declarações que andam connosco de bandeira ao peito sem que alguém as tenha lá colocado. Ainda hoje a uso, mais não seja porque, ainda hoje, descobri o Sol a pôr-se num ângulo novo, ali em São Bento como quem vai para a Lapa.
Gosto de ti pelas pequenas coisas, as que não saem nos teus guias. Do cheiro a roupa lavada ao passar pela Rua dos Mastros, do som do piano a sair da pequena loja na Rua da Ribeira Nova, das horas de almoço calmas sob as árvores sombreiras da Praça das Flores e daquela janela nos Anjos cheia de plantas suculentas de catálogo de revista. És feita disso e mais. És o Chiado às 8h num dia de céu limpo de Inverno, o chamar intenso dos pastéis da Manteigaria que nos envolve como um sussurro no ouvido, o tapete de folhas amarelas que cobre a minha rua em Novembro, o aroma das madressilvas (tão singelas que ninguém nunca dá por elas!) numa rua em Santos, que nos toca ao de leve como uma pena, és a minha vizinha da frente a espreitar à janela, perscrutando tudo e nada, és eu, caminhando sobre ti, de mãos dadas a alguém, observando alguém. És o cenário dos meus sonhos. És assim, eternamente menina e moça, brilhas feita adolescente de alça descaída sobre os ombros e pés descalços a quem a única realidade que interessa são os primeiros figos maduros do ano que comes neste instante, só que tempestuosa e volúvel, com dores de crescimento maiores do que aquilo que consegues compreender e suportar – e eu contigo. Mas vai passar, não te preocupes. Ainda não é tempo.